O Sistema Carbonífero do Douro: da paisagem ao ordenamento
The Carboniferous System of Douro: from landscape to territorial planning
Ribeiro, Daniela1
1 Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto; Via Panorâmica S/N, 4150-755 Porto, Portugal; daniela.p.alvesribeiro@gmail.com
RESUMO
Em 1994 encerra a última exploração de combustível nacional, ficando em suspenso a evolução da paisagem outrora determinada pela transformação do carvão em energia, desde as estruturas de apoio social na proximidade dos pontos de extração ao longo da Bacia Carbonífera do Douro, até aos sistemas (infra)estruturais da, e na, cidade do Porto. Desmaterializada a fonte de energia, todo o Sistema perde significância. Mais do que as formas, ganha relevância a sua representação enquanto símbolo cultural. Hoje, a condição patrimonial deverá incidir na capacidade de representação dos valores que estabelecem vínculos entre o presente e o passado. Importa compreender como poderá a inércia que o sistema energético produz no território ser (re)entendida como recurso prospetivo e transformador.
Palavras-chave: Produção de energia, Sistema carbonífero, património, paisagem cultural, ordenamento do território
ABSTRACT
In 1994, the last national fuel exploitation was closed, leading to the suspension of the landscape evolution process, formerly determined by the transformation of coal into energy, from the social support structures close to the coal extraction points along the Douro Coalfield, up to the (infra)structural systems of, and in, the city of Porto. The whole system lost its significance after the dematerialization of energy resource: the element that once articulated territorial development became immaterial, and the system lost its physical support structure. Today, the patrimonial condition should be supported on the capacity to represent values and needs that establish links between the present and the past. So that, it is important to understand how the inertia that the energy system produces in the territory can be (re)understood as a prospective and renovating resource.
Keywords: Energy production, carboniferous system, heritage, cultural landscape, territorial planning
1. O Sistema Carbonífero do Douro: Da Paisagem ao Ordenamento
1.1. Paisagem tecnológica
1.1.1. Carvão como força motriz
Duas décadas após a introdução do fuelóleo na central termoelétrica da Tapada do Outeiro, encerra a última exploração de combustível nacional. Em 1994 dá-se a morte assistida da Mina do Pejão. A afirmação da era industrial da eletricidade e da transformação química vem alterar o sistema energético assente no que Mumford (1934) designa por Capitalismo Carbonífero.
Até à introdução de carvão, a concentração das estruturas produtivas – e consequentemente, urbanas- é determinada em função da proximidade à fonte de energia. Com esta inovação, a indústria passa a viver da acumulação de energia: deixa de ser o combustível o fator determinante para a sua localização.
Enquanto capital acumulável, o carvão, um mineral não oxidado, rapidamente se torna mais rentável do que a madeira: muito mais compacto, a sua extração, transporte, armazenamento e transformação passam a constituir-se como sistema de organização territorial, introduzindo a energia potencial novos paradigmas de ordenamento territorial.
A paisagem tecnológica (Macedo, 2012) decorrente da produção de energia a partir do único combustível nacional estende-se desde os pontos de extração – aqui sobre a Faixa Carbonífera do Douro - até aos sistemas domésticos de aquecimento, centrais de produção termoelétrica e estruturas industriais, maioritariamente no Porto. É o que consideramos como Sistema Carbonífero do Douro.
A Faixa Carbonífera do Douro estende-se desde as proximidades de Fão (S. Pedro de Fins), atravessa o Rio Douro na direção sudeste e prolonga-se até Arouca (Janarde), ao longo de 53Km e apresentando uma largura sempre inferior a 500m. Desta faixa, a área que se estende ao longo de aproximadamente 26 km, entre Ermesinde (concelho de Valongo) e Paraíso (concelho de Castelo de Paiva) -abrangendo o concelho de Gondomar e o de Castelo de Paiva- é denominada, no que diz respeito à geologia, Bacia Carbonífera do Douro.
No contexto nacional, as suas antracites afirmam-se a partir da segunda metade do século XIX, pela sua superioridade e poder calorífico; também pela proximidade dos pontos de extração à cidade do Porto, então integrada no próprio processo de transformação do carvão.
A linha de produção de energia passa a constituir-se como uma linha de produção de território, então determinada pela utilização do carvão enquanto fonte de energia potencial.